Hoje vou falar de uma das bandas que mais abalaram a minha percepção e entendimento sobre como construir e executar canções, os fodásticos Sonic Youth.

Banda novaiorquina seminal tanto na minha formação como "músico" e ouvinte, tanto na cena indierocker estadunidense e mundial desde o início dos anos 80.
A banda foi fundada em 1981 e inspirava-se nas sinfonias de guitarra de Glenn Branca (com o qual boa parte da banda já tocou), no proto-punk de The Stooges, The Velvet Underground e MC5, na poesia punk de Patti Smith, o Krautrock de Can, o psicodélico garage rock do 13th Floor Elevators, assim como compositores avant-garde, como John Cage. Outro dos diferenciais dos caras é que a banda é aclamada por redefinir o que uma guitarra pode fazer, ao utilizar uma variedade de afinações alternativas e modificar o instrumento, com objetos inusitados, como baquetas e chaves de fenda como forma de alterar seu timbre (sim, Moore e Ranaldo são parte da minha bíblia musical).
A banda desde então é capitaneada pelo guitarrista/vocalista genial e maluquete de carteirinha, o Sr. Thurston Moore (com alguns discos solos fantásticos na mala) e tem como eternos e fiéis escudeiros desde então, sua esposa e baixista (embora ultimamente tenha tocado uma terceira guitarra) Kim Gordon e o genial, barulhentasso e com o timbre de voz mais legal dos 3, o guitarrista/vocalista Lee Ranaldo. A princípio, contavam com o batera Bob Bert que fora substituído em meados dos anos 80 pelo constante e econômico, porém fantástico Steve Shelley. Hoje completa o line-up da banda o baixista Mark Ibold (ex-Pavement, que é outra das bandas prediletas da casa).
Não dá pra citar obras avulsas dos caras, pois tudo o que lançaram é de uma qualidade pra lá de absurda, desde as experimentações da série SYR, até a trilha sonora de filmes, passando por cover dos Carpenters (ecletismo barulhento), mas como a discografia dos caras é pra lá de extensa (e fenomenal), vou falar sobre o primeiro disco que escutei deles e um dos meus preferidos, embora alguns torçam o nariz para esse discaço, o menosprezado, "Experimental Jet Set, Thrash and No Star".

Esse disco, de 1994, veio cheio de expectativas por parte da crítica e do público, pois vem na sequência do hypado "Dirty" que contava com algumas de suas mais fantásticas canções como por exemplo, "Sugar Kane". Posso falar em nome de alguns ouvintes, sobre a bolacha. Como foi o primeiro disco que ouvi dos caras, a minha primeira impressão foi de total estranheza, pois nunca, até então, ouvira algo tão exótico a ponto de hipnotizar-me do começo ao fim da audição. Fiquei extasiado com a construção das músicas, os riffs fugiam do óbvio, era proporcionalmente contrário ao que eu escutava na época (basicamente Ramones), era cheio de guitarras, efeitos, muitos efeitos, distorções, dissonâncias, ruídos, barulhos e aquelas vozes que pareciam ter nascido na minha cabeça de tão natural que me soavam. Ouvindo esse disco, descobri que barulho era música sim, e que era um elemento a ser respeitado.
Começa com a hipponga e folk (o que é estranho até pra eles) "Winner's Blues", até então, só a voz cheia de efeitos me causava estranheza, mas quando entra na sequência o hino "Bull in the Heather", meu queixo caiu, minha cabeça deu voltas na lua e desde então o rocknroll pra mim não fora mais o mesmo. Que sonzeira, que estranha, que simples, como podiam ser tão diferentes e geniais ao mesmo tempo que soavam tão toscos (no bom sentido, óbvio). Aqui o Lo-Fi passa a fazer sentido.
O disco todo é de uma qualidade absurda, passando pelas tão fantásticas "Androgynous Mind" (essa foi a primeira deles que eu aprendi a tocar, toco até hoje), "Tokyo Eye" que tinha a voz de Moore sussurrada no vocal, o que para quem crescera ouvindo bandas onde o vocal era principal premissa, era incabível e fascinante. O disco fecha com outro hino, a fenomenal "Sweet Shine" que tem Kim Gordon no sue auge vocal fechando o disco de maneira poderosa.
Lembro da cara de "ué" que eu fiquei ao final da primeira audição desse discaço. Estávamos na porta do Jackson (grande brother), eu, ele, o Eduardo, o Marrom, o Daniel e o Beto que trouxera a fita (sim, ainda ouvíamos as famosas fitas K7). Acho que fiquei uns 5 minutos sem falar um "A", com os moleques olhando pra minha cara de incrédulo esperando o meu veredito, pois até então, só eu ainda não os tinha ouvido. Só me lembro de ter conseguido soltar um sonoro "puta que o pariu, que foda!". Tomei a fita do Beto e tirei a minha cópia. Desde então este virou um dos discos de cabeceira na minha costrução musical (quisera eu ser genial a esse ponto) e na minha discoteca básica.
Bom, chega de babar ovo. Ouçam e tirem seus próprios vereditos.
Divirtam-se!!!