segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Redescobrindo os bons sons - Anos 90 - parte 8

Poxa, desculpem a porrada de tempo sem postar nada, tô na maior correria: trampo, casa e casamento ... tá corrido pacas ... Mas chega de desculpas. O que importa é que tô voltando a ativa e continuando a saga dos bons sons dos 90 (embora no final dos 10 posts sempre vou achar que faltaram coisas essenciais, mas whatever).

Hoje vou falar de uma das bandas que mais abalaram a minha percepção e entendimento sobre como construir e executar canções, os fodásticos Sonic Youth.



Banda novaiorquina seminal tanto na minha formação como "músico" e ouvinte, tanto na cena indierocker estadunidense e mundial desde o início dos anos 80.

A banda foi fundada em 1981 e inspirava-se nas sinfonias de guitarra de Glenn Branca (com o qual boa parte da banda já tocou), no proto-punk de The Stooges, The Velvet Underground e MC5, na poesia punk de Patti Smith, o Krautrock de Can, o psicodélico garage rock do 13th Floor Elevators, assim como compositores avant-garde, como John Cage. Outro dos diferenciais dos caras é que a banda é aclamada por redefinir o que uma guitarra pode fazer, ao utilizar uma variedade de afinações alternativas e modificar o instrumento, com objetos inusitados, como baquetas e chaves de fenda como forma de alterar seu timbre (sim, Moore e Ranaldo são parte da minha bíblia musical).

A banda desde então é capitaneada pelo guitarrista/vocalista genial e maluquete de carteirinha, o Sr. Thurston Moore (com alguns discos solos fantásticos na mala) e tem como eternos e fiéis escudeiros desde então, sua esposa e baixista (embora ultimamente tenha tocado uma terceira guitarra) Kim Gordon e o genial, barulhentasso e com o timbre de voz mais legal dos 3, o guitarrista/vocalista Lee Ranaldo. A princípio, contavam com o batera Bob Bert que fora substituído em meados dos anos 80 pelo constante e econômico, porém fantástico Steve Shelley. Hoje completa o line-up da banda o baixista Mark Ibold (ex-Pavement, que é outra das bandas prediletas da casa).

Não dá pra citar obras avulsas dos caras, pois tudo o que lançaram é de uma qualidade pra lá de absurda, desde as experimentações da série SYR, até a trilha sonora de filmes, passando por cover dos Carpenters (ecletismo barulhento), mas como a discografia dos caras é pra lá de extensa (e fenomenal), vou falar sobre o primeiro disco que escutei deles e um dos meus preferidos, embora alguns torçam o nariz para esse discaço, o menosprezado, "Experimental Jet Set, Thrash and No Star".



Esse disco, de 1994, veio cheio de expectativas por parte da crítica e do público, pois vem na sequência do hypado "Dirty" que contava com algumas de suas mais fantásticas canções como por exemplo, "Sugar Kane". Posso falar em nome de alguns ouvintes, sobre a bolacha. Como foi o primeiro disco que ouvi dos caras, a minha primeira impressão foi de total estranheza, pois nunca, até então, ouvira algo tão exótico a ponto de hipnotizar-me do começo ao fim da audição. Fiquei extasiado com a construção das músicas, os riffs fugiam do óbvio, era proporcionalmente contrário ao que eu escutava na época (basicamente Ramones), era cheio de guitarras, efeitos, muitos efeitos, distorções, dissonâncias, ruídos, barulhos e aquelas vozes que pareciam ter nascido na minha cabeça de tão natural que me soavam. Ouvindo esse disco, descobri que barulho era música sim, e que era um elemento a ser respeitado.

Começa com a hipponga e folk (o que é estranho até pra eles) "Winner's Blues", até então, só a voz cheia de efeitos me causava estranheza, mas quando entra na sequência o hino "Bull in the Heather", meu queixo caiu, minha cabeça deu voltas na lua e desde então o rocknroll pra mim não fora mais o mesmo. Que sonzeira, que estranha, que simples, como podiam ser tão diferentes e geniais ao mesmo tempo que soavam tão toscos (no bom sentido, óbvio). Aqui o Lo-Fi passa a fazer sentido.

O disco todo é de uma qualidade absurda, passando pelas tão fantásticas "Androgynous Mind" (essa foi a primeira deles que eu aprendi a tocar, toco até hoje), "Tokyo Eye" que tinha a voz de Moore sussurrada no vocal, o que para quem crescera ouvindo bandas onde o vocal era principal premissa, era incabível e fascinante. O disco fecha com outro hino, a fenomenal "Sweet Shine" que tem Kim Gordon no sue auge vocal fechando o disco de maneira poderosa.

Lembro da cara de "ué" que eu fiquei ao final da primeira audição desse discaço. Estávamos na porta do Jackson (grande brother), eu, ele, o Eduardo, o Marrom, o Daniel e o Beto que trouxera a fita (sim, ainda ouvíamos as famosas fitas K7). Acho que fiquei uns 5 minutos sem falar um "A", com os moleques olhando pra minha cara de incrédulo esperando o meu veredito, pois até então, só eu ainda não os tinha ouvido. Só me lembro de ter conseguido soltar um sonoro "puta que o pariu, que foda!". Tomei a fita do Beto e tirei a minha cópia. Desde então este virou um dos discos de cabeceira na minha costrução musical (quisera eu ser genial a esse ponto) e na minha discoteca básica.

Bom, chega de babar ovo. Ouçam e tirem seus próprios vereditos.

Divirtam-se!!!