domingo, 30 de novembro de 2014

O maior espetáculo da Terra, ou Paul McCartney ao vivo.

Quarta-feira, 26/11, 21h00 no estádio do Parmêra, foi onde realizei um dos maiores sonhos da minha vida e o de qualquer cara pirado por rock (por boa música, pra falar a verdade). Meu encontro com a nobreza inglesa, o maior espetáculo da Terra, Paul McCartney ao vivo.

Expectativa e ansiedade definiram meu dia todo até a entrada no estádio. Uns 10 minutos após a entrada, eis que começa a chuva no estádio. Pra lavar a alma dos amantes da boa música. A espera é sempre angustiante, mas a recompensa vale cada minuto.

Com aproximadamente 40 minutos de atraso, Sir Paul McCartney sobe ao belo palco ao lado de sua indefectível banda e qualquer angústia pela espera se esvai. Empunhando seu fiel companheiro, o lendário baixo Hofner Icon e com uma disposição do alto dos seus 72 anos de fazer inveja a muito moleque por ai, começa em ritmo frenético com a cacetada (urrada a plenos pulmões por este escriba) "Magical Mistery Tour", o que por si só já me deixa atônito, pois não tinha ideia de que essa entraria em qualquer setlist (embora o cara tenha tantas opções que todos os shows seriam uma nova surpresa). Cantando como nunca, engolindo seu contrabaixo com a mesma fúria e destreza de sempre, e mostrando porque era o melhor músico dos fab-four (em termos de competência, habilidade e musicalidade), reveza entre violões (de 6 e de 12 cordas), guitarras, piano e até ukulelê (na homenagem ao eterno George Harrison, "Something"). Todas as pessoas importantes para o cara merecem a devida homenagem e momento de carinho: George como disse acima, Lennon em "Here Today", Linda em "Maybe I'm Amazed" e sua atual esposa Nancy em "My Valentine" (com um clipe genial que conta com Johnny Depp e Nathalie Portman interpretando a letra da música em linguagem de sinais. Coisa de gênio).

Paul faz um passeio desenvolto por toda a sua carreira, sua fase com os Wings, a fase atual (o disco mais recente tá animal, fora de brincadeira) e a fase Beatle, que a cada nova canção tocada, é comemorada por todos como gol em final de copa do mundo. Paul sabe dosar as fases com maestria e consegue agradar a todos. Traz pirotecnia e explosões em "Live and Let Die" (com direito a canhões no palco e fogos de artifício do lado de fora do estádio. De fazer muita banda metida a espetáculos mais teatralizados corar de vergonha. Paul te ganha pelo simples, isso aqui é só um plus).   Encerra a primeira parte com "Hey Jude" (vejo emoções e lagrimas por todos os lados e as quase 50 mil pessoas cantando o "Na na na" mais famoso da história do rock como se não houvesse amanhã. Coisa linda) e ainda volta pra mais dois "bis", encerrando de maneira épica com "Helter Skelter" e "The End".

Paul tem controle total da situação. Rege tudo como um maestro, banda e público, é o soberano dos palcos e faz do seu ganha pão um espetáculo mais do que digno da grandiosidade que se espera de verdadeiros artistas (o que esse cara faz desde o começo dos anos 60 é arte pura, feita com competência e alma, o que não é pra todos).

Apagam-se as luzes do palco, já era o fim (dessa vez sem bis), só vejo sorrisos, de todos os lados. Já passava da 0h30, um monte de gente não tinha a menor ideia de como voltaria pra casa, mas assim como eu, saiu do belo estádio do Parmêra com a alma lavada, pela perfeição musical e pela chuva. Revigorante como cachoeira, mágico como só o rock é capaz de ser.

Set list:
1- Magical Mystery Tour
2- Save Us
3- All My Loving
4- Listen to What the Man Said
5- Let Me Roll It
6- Paperback Writer
7- My Valentine
8- Nineteen Hundred and Eighty-Five
9- The Long and Winding Road
10- Maybe I’m Amazed
11- I’ve Just Seen a Face
12- We Can Work It Out
13- Another Day
14- And I Love Her
15- Blackbird
16- Here Today
17- New
18- Queenie Eye
19- Lady Madonna
20- All Together Now
21- Lovely Rita
22- Everybody Out There
23- Eleanor Rigby
24- Being for the Benefit of Mr. Kite!
25- Something
26- Ob-La-Di, Ob-La-Da
27- Band on the Run
28- Back in the U.S.S.R.
29- Let It Be
30- Live and Let Die
31- Hey Jude
Bis
32- Day Tripper
33- Get Back
34- I Saw Her Standing There
Bis
35- Yesterday
36- Helter Skelter
37- Golden Slumbers

Logo menos tem mais, até.

domingo, 16 de novembro de 2014

#discodasemana - Outubro/2014

Oi povo bonito!!!

O mês tá sendo corrido, por isso a demora na postagem das resenhas do mês passado. Mas aqui estão elas. Caso queiram acompanhar as resenhas via instagram, só seguir o perfil: @hadouken_sp ou acompanhar a hashtag "#discodasemana ...

Vamos ao que interessa, bons sons.

 Kula Shaker - "K"

Eis aqui o disco mais espiritual do brit pop da década de 90, "K" do Kula Shaker. Um disco de rock (mesmo que muito mais espiritualizado do que qualquer um) absurdamente calcado nos anos 70. Guitarras, muitas guitarras. Crispian Mills as pilota com maestria. Com toda a certeza era um dos maiores músicos da cena inglesa na época. Cozinha pesada e competentíssima e os teclados mais bacanudos da ilha, tocados pelo fodástico Jay Darlington (que depois veio a tocar com o Oasis).

Fizeram um disco ímpar na história do rock ao misturar a sonoridade dos anos 70 com a ideologia hindu. E que mistura pra lá de inusitada. Conseguem imprimir sua crença sem que isso seja chato. Há uma cacetada de elementos da cultura hindu em seu sim. Tablas, cítaras e vocalizações baseadas em escalas orientais.

O disco todo é ponto alto. Do petardo rocker em "Hey Dude" com riffs pesados, a acústica/psicodélica "Temple of Everlasting Light", os ingleses mostram um caldeirão de ótimas referências para fazer um disco coeso e muito bem composto. Ponto mais que positivo para os mantras musicados "Govinda" e "Tattva" que elevam a audição do disco a outro nível (de consciência e concepção musical, a ideia é pra la de genial) e a homenagem a um dos pais da psicodelia, Jerry Garcia (ex-Grateful Dead) na faixa "Grateful When You're Dead/Jerry Was Dead" é um golaço.

Com toda a certeza, "K" é um dos melhores discos da década de 90, pena que passou desapercebido pelo grande público, o que é uma das maiores injustiças do rock. Ouça ontem. Namastê!!! #discodasemana #disco #rock #rockmusic #psicodelia #1996 #hindusongs #indian #hindu #kulashaker #k #ducaráleo #monstruoso #prediletosdacasa #amomuitotudoisso

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The Black Keys - "Turn Blue"

Como continuar sendo relevante e inventivo após lançar o disco mais elogiado da carreira? Qual o próximo passo? O que fazer?

Imagino que estas perguntas permearam a cabeça de Dan Auerbach, a mente criativa dos Black Keys durante o processo de composição de "Turn Blue", seu mais recente disco. Embora calcado nos timbres blueseiros de sempre, eles fizeram um disco mais introspectivo.

Diametralmente oposto ao anterior "El Camino". Enquanto o anterior era pra cima, alegre, solar, este "Turn Blue" é soturno, solitário, por vezes triste até, mas isso não faz dele um disco menor, pelo contrário, mostra que os caras passeiam por todos os lados e conseguem fazer ótimas canções devido a isso.

Timbres e sonoridades vintage são a tônica desse disco. Mesmo na introspectiva faixa título, a timbragem antiga é uma clara referência. Conseguem ser plurais: há rockões típicos como em "Bullet in The Brain", baladas classudas como "Waiting on Words" e "In Our Prime", e canções mais pop para chacoalhar o esqueleto, como "Fever".

Apesar de mais introspectivo, ainda é um disco de rock. O ponto alto é "The Weight of Love" e sua introdução cheia de slide guitars e timbres insanos. Podiam repetir a fórmula do disco anterior e manter-se em evidência, mas fizeram melhor, conseguiram destaque por fazer um disco inesperado. E pra isso tem que ser sacudo de verdade, e os Black Keys foram. Mérito pra eles. Discão!!! Um dos sérios candidatos a melhores de 2014. Fácil. #discodasemana #disco #blackkeys #turnblue #rocknroll #rock #rockmusic #vintage #Ducaráleo #bomdemais #melhoresde2014 #bluesy #prediletosdacasa

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O que fazer quando você já experimentou de tudo na música e ainda busca pelo novo, pelo inusitado? Essa pergunta deve permear a cabeça de Thom Yorke e da rapaziada do Radiohead o tempo todo, e deve ter sido a base para a composição de seu sexto álbum de estúdio, o genial "In Rainbows". 

Musicalmente falando, é uma síntese de todas as fases da carreira dos caras. Do experimentalismo eletrônico (da fase "Kid A" e "Amnesiac") em "15 Steps", passando pelo esporro e guitarrístico (da fase "Pablo Honey") em "Bodysnatchers" e pelas fases deprês existencialista (de "The Bends" e "Ok Computer") em "Nude" e "All I Need", tudo aqui é feito com a magistral competência Radioheadiana. 

Está tudo no seu devido lugar, as guitarras do Johnny, as vozes do Thom e do Ed, o baixo pesado e cavernoso do Coz e a batera econômica do Phil. 

Se tudo corre pelo certo, qual a diferença e genialidade desse álbum pros outros? A forma de distribuição. Isso mesmo. Eles colocaram à época o álbum para ser vendido em seu site e cada um pagava o que achava justo. Claro que havia um valor mínimo, mas a ideia em si já foi revolucionária e o álbum vendeu muito mais que o esperado. 

E independente de quanto se pagasse, esse álbum vale cada centavo. Parece uma coletânea de tanta música boa. É um disco desigual, alterna momentos mais introspectivos com momentos mais alegres, mas tudo na medida certa, nem deprê demais, nem feliz demais. Uma meia estação. Aquele clima típico inglês. Não conseguiria indicar uma ou duas músicas, ouça tudo, de preferência com bons fones de ouvido. A experiência é absurda. 

Não a toa o Radiohead é abanda mais genial de sua geração, se reciclam, se reinventam a cada novo disco. Longa vida a Thom Yorke e cia. Disco mais do que recomendado, essencial. #discodasemana #disco #radiohead #inrainbows #genial #foda #Ducaráleo #duk7 #rock #indie #essencial #prediletosdacasa

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Cara, que disco é esse?! SENSACIONAL!!! O Gram, após 7 anos de hiato, volta com os dois pés no peito, cobrando o seu posto de melhor banda do rocknroll brasileiro (com méritos e direitos) e lançando o principal candidato a disco do ano (entre os nacionais, fato consumado). 

Após o fim abrupto e inesperado em 2007 com a saída do vocalista e principal compositor, Sérgio Filho, como continuar? Levou um bom tempo para que os remanescentes (Fernando Falvo: bateria, Marcello Pagotto: baixo e o gênio Marco Loschiavo: guitarras) conseguissem equalizar o término e se reconstruírem como banda e unidade. 
Infindáveis pedidos públicos de volta, e várias conversas com o ex-vocalista aconteceram sem que se houvesse um consenso sobre o retorno. Ao final, optou-se pela continuidade, mas com um novo vocalista, Ferraz foi incorporado e deu o gás que eles provavelmente precisavam pra voltar a ativa, da mesma maneira inesperada com que foram.

O disco, praticamente um EP com 7 canções, e menos de 40 minutos, nos deixa sedentos por mais novidades. Abre guitarreiro com "Sem Saída", a escolhida pra ser o single de estreia. O disco é plural, muito diversificado. Da balada cheia de slides e violões e letra genial em "Toda a dor do mundo" ("... e tão bela é a luz que ilumina sem perguntar por que, por ser tão breve de si...") a levadas hendrixianas em "Meu tom", mostram que não perderam a mão e que evoluíram nesse tempo longe. 

Ecos de rock inglês dos anos 90, cozinha magnificamente bem formulada, guitarras cheias de personalidade e criatividade, e violões que são um recurso muito utilizado nesse novo trabalho dos caras, são a base para a voz de Ferraz que se impõe a frente da banda e mostra que é uma grata e positiva surpresa, principalmente em "Sei" onde o vocal realmente toma a frente. O mais bacana, foi contarem com o aval e apoio do antigo vocalista, que deu a sua benção pra que essa volta acontecesse, e se declarou fã dessa nova formação. 

Tô ansioso pra ver essa pérola ao vivo. Se não for o disco do ano, na minha lista vai figurar entre o top 3. Mais do que recomendado, essencial. O Gram mais uma vez nos dá uma aula de rocknroll cosmopolita e contemporâneo. De longe, a melhor banda do rock brasileiro está de volta. Louvados sejam os deuses do rock que ouviram as minhas preces e de tantos outros. Vida longa e próspera, Gram. #disco #discodasemana #Gram #outroseu #melhoresde2014 #foda #Ducaráleo #atéqueenfimvoltaram #essencial #discotecabásica #prediletosdacasa

Mês que vem, tem mais.

Até.