sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

As famosas listas de melhores do ano. Prevejo Tretas!!!

Buenas povo,

Pode parecer clichê, ou síndrome de Rob Fleming (Alta-fidelidade. Se não leu o livro ou não viu o filme, sai desse blog agora e vai corrigir esse erro, seu herege. Hahahahaha), mas  resolvi polemizar e fazer a MINHA lista de melhores do ano. Pode até não agradar a todo mundo (e nem é o intuito), mas vai ser muito mais bacana do que a lista de melhores do programa do Faustão, com certeza.

Como odeio dar ordem numérica de importância e pra manter um critério justo, a lista será feita em ordem alfabética pelo nome do artista/banda.

Então vamos lá. Chega de enrolação. Eis os vencedores do Troféu "É isso aí, Ferinha" na categoria Melhores Discos Brasileiros de 2014.

Banda do Mar - "Banda do Mar"

Cara, confesso que vi essa nova empreitada do Marcelo Camelo com certa descrença. Nunca duvidei da sua capacidade musical (sou pirado em Los Hermanos), mas esse lance de montar banda com a primeira dama é um lance que me deixa meio com o pé atrás (experiência própria). A própria história nos mostra isso: Lennon & Yoko, Ritchie Blackmore & Candice Night, só pra citar dois exemplos. Seus trabalhos solos ou com suas bandas de origem sempre me pareceram mais inspirados. Mas como em briga de marido e mulher não se deve meter a colher, vamos respeitar.

Camelo e Mallu já vinham participando dos discos solos um do outro de uma maneira bacana, agora, nessa nova empreitada, simplesmente juntaram forças e recrutaram o batera português Fred Ferreira pra fazer um projeto único, a Banda do Mar (que baita nome mequetrefe), que lançou um disco de estreia pra lá de bacanudo.

Embora tenha gostado um bocado do disco, não senti muita coesão. Parece se estar ouvindo hora um disco do Camelo, hora um disco da Mallu, não encontrei "a identidade" da banda, o elemento que os une. Mas isso não faz do disco, um disco ruim, longe disso. É um baita disco.

Confesso que vi mais proximidade de Los Hermanos nessa estreia do que nos discos solos do Camelo, e isso Manolo, é um baita elogio. Ao mesmo tempo, vejo Mallu se afastando cada vez mais da sua veia folk, que era a sua marca registrada e o que a trouxe a grande mídia. A vejo muito mais influenciada pela sonoridade do marido do que o contrário. Relacionamentos à parte, percebo algumas influências bacanas nesse novo trabalho, escuto ecos de tropicália em "Mia", as claras referências "mpbísticas"  em "Dia Clarear", ainda há espaço para uma sonoridade mais praieira, na linha do "Little Joy" em "Seja Como For".

A cozinha faz o básico com competência. A batera é econômica, mas dita o ritmo das canções. O baixo aqui é complemento, acompanhamento. As vozes, como de se esperar, fazem um belíssimo contraponto. Gosto mais de quando eles dividem o vocal, fica mais próximo de uma identidade, mas quando o fazem por conta própria, ainda assim é muito bom. Camelo é um baita guitarrista e o mostra por aqui sem muita firula ou solos mirabolantes. Preenche os espaços necessários. Há uma preocupação muito maior com os timbres, com a sonoridade do que com habilidades técnicas. E isso é feito com maestria.

O disco soa todo vintage, timbres clássicos, efeitos, mesmo que poucos, muito bem escolhidos. Produção de primeiro mundo. Um disco, alegre, solar, típica trilha sonora de um verão bacana. Um belo disco.

Nota: 7,5/10,0

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Cachorro Grande - "Costa do Marfim"

Malandro, que viajem! Essa é a primeira ideia que veio a minha mente ao ouvir o disco novo dos gaúchos da Cachorro Grande. Imagina assim: a banda mais do rock no país resolve ser o Kasabian por um disco ... é o conceito que mais se aproxima dessa nova fase dos caras.

Nesse disco, tudo é fora do usual. Pra começar, saíram do Brasil e foram gravar o disco na Costa do Marfim (daí o nome da bolachinha), o produtor, foi o insano Edu K (ex-De Falla), daí essa aproximação com o lance eletrônico passa a fazer ainda mais sentido. Há uma mistura absurda de elementos que anteriormente não constavam na paleta de cores dos caras. Eles flertam com percussões africanas, ritmos orientais, com samplers e bases pré programadas. Os caras abandonaram totalmente a sua zona de conforto. Ousaram mesmo. A "bizarrice" não acaba por aí, a cereja do bolo é a capa, que é quase um clone do personagem principal da novela "O Astro".

Por mais diferente que esse disco possa soar, algumas coisas não fugiram à regra (ainda bem!!!), a guitarra do Gross ainda é um dos principais elementos do som dos caras, e povo, como tá soando bacana, mesmo com todas as camadas de efeitos. O cara é um absurdo com uma guitarra na mão. Os outros caras da banda também se saíram bem pacas com essa nova roupagem. O baixo do Coruja tá soando bruto, com peso e pressão. Mesmo quando parece que é substituído por alguma parafernália eletrônica, ainda soa classudo.

A maior treta sempre cai no colo do batera. Se adaptar e coordenar as batidas eletrônicas às batidas orgânicas do seu instrumento, não é tarefa pra qualquer um, mas o Boizinho se sai bem pacas.

Não é um disco fácil, não dá pra digerir de cara. Ainda mais quando se está acostumado com a sonoridade esporrenta dos caras, mas isso, em momento algum diminui a qualidade do trabalho. Após algumas audições, o disco te acerta de jeito, e aí, já era ...

Entre fazer cover de si mesmo ou correr riscos evoluindo, a Cachorro Grande optou pela segunda hipótese e deu um passo adiante. Adeus zona de conforto, vamos ver o que vem por aí. Tô doido pra ver como essas músicas novas irão soar ao vivo. Diferente de tudo e de todos.

Nota: 7,5/10,0

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Criolo - "Convoque Seu Buda"

Provavelmente um dos discos mais esperados do ano. O sucessor do multi-premiado "Nó na Orelha".

Depois de ser agraciado por público e crítica, como manter o rumo? Como não se deslumbrar? Essas perguntas provavelmente passaram pela cabeça do rapper durante o processo de composição/gravação desse novo disco, mas o cara seguiu em frente e mais uma vez fez um dos melhores trabalhos do ano.

Criolo continua fazendo rap de maneira menos ortodóxa, é adepto do DJ, como todo bom rapper, mas o grosso de sua sonoridade é feita de maneira orgânica, por uma banda pra lá de azeitada. Seus samples mostram um bom gosto absurdo e um baita conhecimento da música negra, o que enriquece ainda mais o trabalho junto a sua banda. Guitarra, baixo, bateria, percussão, metais e um dj pra lá de entrosados, fazem a cama para que o cara possa desenvolver toda a sua ideia.

Além disso, usa e abusa de convidados pra lá de especiais pra fazer ainda mais bonito: Tulipa Ruiz em "Cartão de Visita", e uma voz que me remete à Beth Carvalho no refrão de "Duas de Cinco", mas que não posso afirmar se é ou não, pois não há informação alguma sobre.

Letras afiadas, onde Criolo faz de sua verborragia, uma metralhadora giratória pra meter o dedo na ferida da sociedade brasileira. Em seu rap periférico, fala das mazelas, das dificuldades de uma enorme parcela da população que não é ouvida de propósito, ele se furta à posição de porta-voz dessa maioria, e não faz isso apenas em forma de rap. Seu disco é plural, tem espaço pra soul, blues, reggae e samba e em todas essas searas, o cara manda bem.

Revolucionário, distribui seu disco gratuitamente via internet, está lá na sua página, pra quem quiser, sua intenção é divulgar o seu trabalho e possibilitar que cada vez mais pessoas ouçam o que ele tem a dizer. Com "Convoque Seu Buda", Criolo se solidifica não apenas no cenário do rap nacional, mas se cristaliza como um dos grandes da música brasileira com um dos melhores discos do ano. Que venham mais discos como esse.

Nota: 8,5/10,0

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Gram - "Outro Seu"

Cara, que disco é esse?! SENSACIONAL!!! O Gram, após 7 anos de hiato, volta com os dois pés no peito, cobrando o seu posto de melhor banda do rocknroll brasileiro (com méritos e direitos) e lançando o disco do ano (entre os nacionais, fato consumado).

Após o fim abrupto e inesperado em 2007 com a saída do vocalista e principal compositor, Sérgio Filho, como continuar? Levou um bom tempo para que os remanescentes (Fernando Falvo: bateria, Marcello Pagotto: baixo e o gênio Marco Loschiavo: guitarras) conseguissem equalizar o término e se reconstruírem como banda e unidade.
Infindáveis pedidos públicos de volta, e várias conversas com o ex-vocalista aconteceram sem que se houvesse um consenso sobre o retorno. Ao final, optou-se pela continuidade, mas com um novo vocalista, Ferraz foi incorporado e deu o gás que eles provavelmente precisavam pra voltar a ativa, da mesma maneira inesperada com que foram.

O disco, praticamente um EP com 7 canções, e menos de 40 minutos, nos deixa sedentos por mais novidades. Abre guitarreiro com "Sem Saída", a escolhida pra ser o single de estreia. O disco é plural, muito diversificado. Da balada cheia de slides e violões e letra genial em "Toda a dor do mundo" ("... e tão bela é a luz que ilumina sem perguntar por que, por ser tão breve de si...") a levadas hendrixianas em "Meu tom", mostram que não perderam a mão e que evoluíram nesse tempo longe.

Ecos de rock inglês dos anos 90, cozinha magnificamente bem formulada, guitarras cheias de personalidade e criatividade, e violões que são um recurso muito utilizado nesse novo trabalho dos caras, são a base para a voz de Ferraz que se impõe a frente da banda e mostra que é uma grata e positiva surpresa, principalmente em "Sei" onde o vocal realmente toma a frente. O mais bacana, foi contarem com o aval e apoio do antigo vocalista, que deu a sua benção pra que essa volta acontecesse, e se declarou fã dessa nova formação.

Tive o prazer de escutar esse discaço ao vivo em um pocket show que eles fizeram no começo de dezembro, e ele soa tão bem quanto em estúdio. Mais do que recomendado, essencial. O Gram mais uma vez nos dá uma aula de rocknroll cosmopolita e contemporâneo. De longe, a melhor banda do rock brasileiro está de volta. Louvados sejam os deuses do rock que ouviram as minhas preces e de tantos outros. Vida longa e próspera, Gram.

Nota: 11,0/10,0

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Medulla - "MVMT"

A banda dos gêmeos Kéops e Raony lançou nesse ano uma compilação com todos os EP's lançados entre 2008 e 2013, fechando um ciclo. Há a promessa de um novo trabalho pra 2015.

Calcado nas guitarras e nas vozes dobradas, o Medulla faz um som personalíssimo, diferente do que normalmente toca nos rádios/mídias especializadas. Embora tenham as vozes parecidas, quando dobradas, criam uma ambiência, um efeito interessante, e os cariocas abusam desse diferencial com muita qualidade, Hora cantada de maneira melódica, hora numa "vibe" mais puxada pro rap, as vozes são apenas o veículo para as letras de enorme cunho social dos irmãos. Cotidiano, relações humanas, desigualdade, todos os aspectos da vida real, fazem parte do caleidoscópio do Medulla.

A poesia urbana é acompanhada por uma banda de responsa. Cozinha absurda: baixo pesado e muito bem trabalhado, muito mais do que só acompanhamento, alicerça o trabalho das guitarras, mantém peso/melodia na mesma proporção, A batera (que as vezes é substituída por uma percussão tão competente quanto), dita o ritmo das levadas com uma pegada pra lá de bruta. Mas o que ainda me chama mais a atenção no som dos caras, são as guitarras. Essas fazem um trabalho muito mais melódico que o comum (embora sejam esporrentas quando as músicas pedem esse tipo de levada). Essa dualidade é visível em "Eterno Retorno" (que além de ser uma das mais melódicas, tem uma das melhores letras dos caras: "Se é mesmo a vida quem desata os nós/ E o medo dela não nos deixa entender /O universo inteiro numa casca de noz / Impõe a lei do eterno retorno..."), em "Bom te Ver" (com levada mais rocknroll) e em "Paralelo ao Chão" (uma pedrada).

O Medulla passeia por várias vertentes ao longo do disco, flerta com a MPB, com o rap, mesmo que a base de tudo seja o rock. Todos esses estilos faz do som dos caras algo único. Há em todas essas variantes uma marca que os diferencie. Sendo MPB de banquinho e violão, ou com guitarras virulentas, ainda é o Medulla, e isso é notório. Identidade, a gente vê por aqui.

Nota: 9,0/10,0

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Pitty - Setevidas

Depois de um hiato de 4 anos sem material inédito, a bahiana nos brinda com um discaço. Diametralmente oposto ao seu projeto parelelo, o Agridoce, aqui o lance é bruto, é rocknroll na veia mesmo. Peso, distorção, guitarras, baixo pesado, batera agressiva e algumas surpresas especiais ao longo do processo, matam quaisquer ranço de clichê do rock que pudesse haver nesse disco.

A banda que passou por reformulação, teve a adição do baixista Guilherme Almeida (o icônico Joe acabou saindo), o que deu um salto de qualidade no som do povo. Duda continua batendo pesado (tenho dó do seu kit de bateria), e Martin, é de longe um dos melhores guitarristas do rock brasileiro. Toca demais!!! Peso, agressividade, melodia e timbres fantásticos mostram o bom gosto e o apreço pelo instrumento e suas minúcias.


Produção e pós produção absurdamente bem feitas, timbragem cristalina, um puta trabalho. Ainda mais se levarmos em conta que o disco foi todo gravado ao vivo, com a banda na mesma sala, cara a cara, o que dificulta em muito o processo.

Além do instrumental sensacional, outro ponto alto nesse trabalho são as letras, falando de cotidiano, de relações humanas, de materialismo (como em "A massa"), de maneira direta, as vezes até sensualizando (mesmo que metaforicamente), como em "Pequena morte" e em "Um leão"

Alguns detalhes pouco usuais aparecem nesse novo trabalho, um saxofone poderoso no refrão da faixa-título, um piano, tocado pela própria Pitty em "Lado de lá", uma balada psicodélica. O disco encerra de maneira percussiva e inusitada, na balada hippie (com coro e tudo) com cara de hino "Serpente", onde ela fala sobre mudanças de maneira sutil.

O rock brasileiro estava precisando de um disco assim. Completo, pesado, rico em sonoridades, com letras relevantes, que o tirasse desse estado de estagnação e "paumolecência" dos últimos anos. Mais uma vez Pitty e sua banda dão a cara pra bater, mas se sobressaem, fazem o melhor disco de sua carreira até então, e se colocam no lugar que merecem estar, junto as principais bandas brasileiras de rock, senão a principal.

Nota: 10,0/10,0

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Planar - "Invasão"

Como tem surgido banda bacana no Rio de Janeiro de uns anos pra cá. Los Hermanos, Rockz, Medulla e agora o Planar também entra nessa lista, e com louvor.

Banda capitaneada por Leonardo Braga (voz/guitarra), conta ainda em seu line-up com o baixo de Leonardo Vilela, o Chapolin e a batera de Ivan Roichman. Cozinha competente e muito bem amarrada, dá o suporte necessário pra guitarra soar com mais liberdade e se destacar como elemento principal na sonoridade dos caras. Fazem um som moderno, seus riffs, levadas, preenchimento de espaços, silêncios, esporros, mostram uma atenção com influências do passado (principalmente a oitentista "Vendaval") e tendências modernas.

Lançado online e distribuído gratuitamente na página dos caras democratiza e facilita a possibilidade de acesso à obra e serve como ferramenta de divulgação da melhor qualidade.

Divulgação essa que tem sido feita em diferentes veículos. O clipe de "Trens" já está na programação do Multishow, o que certamente os dará uma visibilidade ainda maior (e merecida).

Esse primeiro álbum dos caras, foi todo gravado e produzido por Patrick Laplan (Los Hermanos,
Eskimo) em sua própria casa e a "gestação" desse primogênito, levou quase um ano pra ser concluída, à base de composições, conversas e muito café, como diz o release dos caras. Esse tempo de maturação se mostrou pra lá de necessário: escolha de timbres, de arranjos, de convidados (o próprio Patrick mandando ver nos sintetizadores e teclados, Alan Lopez do Medulla, em algumas guitarras e Diego Laje no metalofone, sim, metalofone em "Aqui de Cima"), e na formatação das cancões. Esse cuidado faz do disco um trabalho muito bem resolvido e atual.

Suas letras que mostram amores, desamores, solidão, sob uma ótica madura, tomam a gente de assalto e literalmente "invadem" nossos ouvidos. Quando você menos espera já está cantarolando. Bom demais de ouvir, ruim demais de largar. Os caras fizeram um belo disco.


Nota: 8,0/10,0

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Raimundos - Cantigas de Roda

Cara, há quanto tempo esperava um novo disco dos Raimundos, mas um disco de verdade, não um arremedo, e sou agraciado com essa pedrada!!! Em "Cantigas de Roda", temos o Raimundos que todos sentimos falta, de volta: as letras engraçadas, as misturas com forró/reggae/ska, os riffs metaleiros, o HC bruto, os backing vocals canalhas ... tá tudo aqui, do jeitim que todo mundo gosta.

Conseguiram fixar o melhor line-up da banda após a formação original. Digão até que enfim se achou como vocalista. Presença de palco, voz, empatia, além da guitarra absurda que toca (e que agora não é mais o seu foco principal). Canisso tá de volta, o que garante um baixo pra lá de pesado e bem executado (além do bom humor e "pedreiragem" da banda). Marquim (que já está com os caras desde a saída do antigo vocalista), tá tocando mais do que nunca. De sua guitarra saem os belos riffs, solos cortantes, execução absurda e peso meu amigo, muito peso. O novato aqui é o batera Caio Cunha, e que bela surpresa, um legítimo batera de HC, o que engrandeceu (em qualidade e peso) o som dos caras.

O disco foi financiado por crowdfunding via Catarse e arrecadou mais do que o previsto. Essa
"gordura" financeira possibilitou que a producão fosse caprichadíssima e feita em terras estadunidenses por Billie Graziadei do Biohazard (que também participa do disco em "Politcs"), ou seja, é baseado em um peso absurdo, mas com uma qualidade sonora digna de primeiro mundo. Valeu cada centavo.

O baixista Canisso descreveu o disco como sendo uma trilha sonora para rodinha, música de roda. De pogo, de violão, não importa. O disco não é só sobre farra, sarro e fuleiragem, entre as letras do disco, a primeira lançada, "Politics", fala sobre os protestos populares de 2013, um Raimundos mais consciente. Falam também sobre os percalços e perrengues da estrada (principalmente para uma banda independente, como são hoje) em "Nó Suíno", com refrão pra ser cantado a plenos pulmões enquanto se arrebenta na roda de pogo. A parceria com Zenilton é retomada na sacana "Gato da Rosinha", típica faixa do início de carreira dos caras (cheia de duplo sentido) e não deixam de ser românticos em "Gordelícia" e na pop bruta "Baculejo". Ou seja, tem Raimundos de todas as fases no mesmo disco.

Tive o prazer de vê-los ao vivo no Lollapalooza e me surpreendi com a qualidade e o peso dessas novas canções. O disco saiu em fevereiro, o Lolla foi em Junho, e todos que estavam curtindo o show dos caras já cantavam todas as novas canções da mesma maneira que as clássicas eram cantadas.

Pra um disco independente, um baita reconhecimento.O melhor disco dos caras em muuuuuito tempo. Parabéns Raimundos.


Nota: 8,5/10,0

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Supercombo - Amianto

Conheci a banda através de um amigo que disse que eu não poderia fechar a minha lista de melhores do ano sem ouvir o último álbum da banda. E que surpresa. De longe uma das melhores coisas que ouvi no ano. Que disco!!! Trilha sonora oficial do meu final de ano, não tem saído do repeat.

O Supercombo tem todos os meus clichês preferidos no rocknroll. Guitarras altas, distorcidas, com timbres incríveis e não óbvias (ficam a cargo de Pedro Ramos e de Leo Ramos que também é o vocalista) , uma garota no baixo (a linda e competente Carol Navarro que não economiza no peso e na pressão sonora, além de fazer os backing vocals), um batera pra lá de criativo (Raul de Paula, cheio de levadas sinuosas e criativas) e sintetizadores (pilotados por Paulo Vaz, dá um ar de "esquisitice" à sonoridade dos caras). Com tanta coisa que me agrada, era meio que óbvio que "Amianto" acabaria entrando nessa lista.

As letras simples, que falam sobre cotidiano, relacionamentos e questões existenciais são tão diretas quanto um soco no nariz e são tão bem amarradas ao instrumental que praticamente faz com que um não exista sem o outro. De auto-ajuda em "Piloto Automático" à crítica da nova infância em "Menino", praticamente tudo é assunto e caberiam em suas letras.

Embora as letras sejam um dos maiores destaques, é a parte instrumental que me impressiona. Mesmo dentro do rock, onde praticamente não se tem mais o que inventar, buscam uma sonoridade diferente, criativa. Há ecos de rock britânico (principalmente em "Sol da Manhã"), de esporro guitarreiro e bateria pra lá de quebrada em "Campo de força" e há espaço para os backings marcantes (a lá Pixies) em "Fundo do Mar". Um disco completo, de quem sabe exatamente a sonoridade que quer e onde quer chegar. O Supercombo tem tudo pra chegar muito longe, pra mim, a melhor novidade do ano (embora estejam na ativa desde 2007). Caso ainda não tenham ouvido, ouçam ontém. Discaço!!!

Nota: 10,0/10,0

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Suricato - "Sol-te"

Alçados a grande mídia através de um programa de uma grande rede de tv (cujo resultado, em minha modesta opinião foi pra lá de manipulado), a Suricato já não é uma novidade, nem revelação (Sol-te, é seu segundo trabalho), mas sim uma bela realidade. Um folk da melhor qualidade com espaço pra diversas influências, do pop ao cha cha cha, sem perder sua característica principal, a experimentação (o uso do didgeridoo em algumas músicas dá a dose certa de esquisitice necessária a isso).

Mesmo trazendo sua sonoridade mais para o pop, os caras não perdem a referência. Utilizando-se na maior parte das vezes de uma formação acústica, o que Rodrigo Suricato (voz, violão, guitarra e mala-bumbo), Gui Schwab (violões, viola, guitarra, banjo, weissenborn, didgeridoo), Raphael Romano (baixo e percussão) e Pompeo Pelosi (bateria e percussão) fazem, é música da melhor qualidade.

Hora flertando com a MPB como na faixa de abertura "Bom Começo", hora com o (bom) pop em "Pra Tudo Acontecer", e até com o cha cha cha em "Not Yesterday", mas quando resolvem fazer folk o fazem com uma qualidade absurda, como em "Trem" e "Um Tanto" (essa última lembra até algumas levadas da turma de Mumford and Sons e afins, coisa fina).

Não sou adepto a esses tipos de programa como esse onde o Suricato apareceu, pois toda a vez que
assisto e vejo uma banda de qualidade, ela sempre é superada pela banda de qualidade mequetrefe
com letras popularescas de sentir vegonha alheia. Aqui, não encontramos nennhum Chico Buarque, nem nenhum Renato Russo, mas há qualidade nas letras que falam sobre cotidiano e relacionamentos de maneira singela e simples e tem tudo pra cair nas graças do grande público (tomara!!! precisamos
melhorar o cenário popular brasileiro que tá ó, uma bosta).

Sonoridade bacana, um disco solar, bom de ouvir em um momento mais relax ou de descontração. Não é um disco que se precise de atenção exclusiva nele pra conseguir curtir/entender, mas caso assim o faça, a experiência será ainda melhor. Tô doido pra vê-los ao vivo, deve ser uma "vibe" muito boa.

O Suricato não é a salvação da música brasileira, mas quem quer ser? Quem tem essa pretensão? Só
sei que a parte que lhes cabe nessa fauna musical brasileira está sendo muito bem ocupada. Longa
vida ao Suricato.

Nota: 8,5/10,0
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Essas são as minhas opiniões, ninguém precisa concordar com elas. Algumas coisas ótimas ficaram de fora dessa lista como o "Zênite" da Farol Cego, o "Máquinas EP"  da banda de mesmo nome e "Vista pro Mar" do Silva. Impossível agradar a gregos e troianos, mas taí, essa lista mostra que embora combalida, a música brasileira tem muita coisa boa. Tomara que todos as bandas citadas tenham muito mais espaço e um 2015 de muito trabalho e inspiração.

Abraço a todos.

Logo menos, tem mais.
Até.

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